domingo, 12 de agosto de 2012

Receita sobre o Inesperado







Ontem, fui assistir um clássico do cinema da década de 70 remontado por Collins Higgins para o teatro. Durante o espectáculo estive por diversos momentos emocionada com os inesperados que a vida nos apresenta. Já faz algum tempo que tenho meditado sobre a questão do inesperado. Acredito que o inesperado, isto é, aquela situação surpreendente, na qual não se espera que aconteça, aquilo que a vida nos apresentada nos momentos mais interessantes e cruciais da nossa vida, são descritos como situações em que a vida nos resgata novamente para o seu seio. Então, apresento uma pequena receita para lidar com o inesperado que se mostra quase todos os dias na nossa vida.








Ingredientes 




 . Um xícara pequena de humildade para aplicar o conceito de que nada é nosso na vida. Nós usamos as coisas e vivemos com as pessoas. A implicação desse conceito nos leva a parar de achar que podemos controlar alguma coisa na vida.

 . Uma colher de sopa bem generosa para mudar a perspectiva sobre acontecimentos que nos surpreendem, tanto para boas surpresas, como para imprevistos que nos incomodam. Nenhum acontecimento deveria ser visto como algo ruim ou desagradável. Cada momento pode ser visto como uma oportunidade enorme que a vida nos dá para fazer novas experiências. 


 . Um pitada a gosto de muito otimismo. O inesperado nos liberta das prisões que construímos para nós mesmos, nos desequilibra diante da ilusão de que somos equilibrados. Volta-nos para encontrar a sensibilidade que se perde nos dias rotineiros, controlados e medidos. O inesperado mostra o quanto estamos vivos e ao mesmo tempo, o quanto estávamos mortos. 

 . Um copo grande de vontade para aprender que a vida nos surpreende! E com essa atitude ela deseja nos resgatar para uma vivência mais leve, mais livre e mais autêntica. 








Modo de preparo




Coloque um ingrediente de cada vez, devagar e misture tudo. Quando o inesperado nos surpreender estaremos dispostos a abraçar tudo que aquele momento nos oferece. Acolher o inesperado é viver com intensidade aquele tempo que não dura muito, pois tudo realmente passa diante da vida. 



Dica 




Não resista ao inesperado, ele não deixará de existir. Acolha-o, envolva-o e descubra o sabor que a vida tem quando estamos abertos para ela.
 
Boa semana, 




 Mila

domingo, 5 de agosto de 2012

Receita sobre abrangência


"O homem é a medida de todas as coisas" Protágoras (490-420 a.C)


Nascido em Abdera, no nordeste da Grécia, Protágoras viajou muito como professor. Tornou-se conselheiro do governante da cidade-estado e foi comissionado a escrever a constituição para a colônia de Thuri, em 444 a.C. É conhecido pela frase célebre  o homem é a medida de todas as coisas.

Para Protágoras, tudo é relativo. Pois, todo argumento tem dois lados e ambos podem ser válidos. Ele afirmou que podia transformar o argumento mais fraco em mais forte. Assim, Protágoras reconhece que toda crença é subjetiva: o homem, mantendo um ponto de vista ou opinião, é que dá a medida de seu valor.

O que pode ser aprendido dessa afirmação tão valiosa de Protágoras? Será esse pensamento importante e válido para os dias atuais? Que valores podemos extrair dessa afirmação de relatividade nas ideias humanas?

Acredito, que a afirmação de que o homem é a medida de todas as coisas possui valor importantíssimo para os dias atuais, onde reina o discurso da verdade absoluta que exclui, marginaliza e cria partidos, no qual aniquilam cada dia as formas diversas de vida.

Acreditar na relatividade das ideias, dos valores, das emoções e dos pontos de vista é fator importante para o desenvolvimento da abrangência nas relações e na construção do conhecimento. Por isso, apoiada na ideia de Protágoras, faço uma pequena receita sobre a importância da abrangência para se viver uma vida melhor.

Receita sobre abrangência


Ingredientes

  • Uma leve pitada de conscientização de que nossas ideias são meras opiniões e uma parte da realidade que conseguimos captar.
  • Um copo cheio de generosidade para aprender a dar e receber conhecimento. Pois, a soma dos mesmos pode contribuir e muito para o nosso crescimento.
  • Um colher grande de humildade para reconhecer que muito daquilo que julgávamos ser o ideal, o correto, o melhor, pode ser somente para nós mesmos. As pessoas são diferentes, pensam e sentem diferentes de nós.
  • Uma temperada de humanidade para aceitar a liberdade de expressão, pensamento, sentimento dos outros.Afinal, todos podem viver bem!
Modo de preparo

Ao misturar tudo para refletir melhor, você encontra espaço para aceitar e respeitar os outros. Nossa arrogância em achar que nossas opiniões são melhores ou superiores é só um retrato da falta de compreensão de que temos apenas um ponto de vista, uma ideia, um conceito, uma opinião. Ao misturar e bater bem os ingredientes, você encontrará mecanismos melhores para incluir, aceitar e aprender a viver com as diferenças.

Dica

A vida vale a pena ser vivida quando existe um espaço qualitativo para o outro se manifestar com tudo que possui. Abrangência é criar esse espaço de valoração do outro em sua totalidade.

Boa semana,

Mila





segunda-feira, 23 de julho de 2012

Receita sobre o lugar onde o Tempo Espera!


O lugar onde o Tempo Espera

Há quase três anos, iniciei um projeto de conhecer todo o litoral brasileiro. Do norte ao sul, conheci lugares belíssimos, paradisíacos e alguns ainda nem visitados e explorados pelo turismo. Meu intuito era conhecer um pouco mais da minha história, do meu povo e do meu país. Observei muito, conversei com muitas pessoas e registrei acontecimentos históricos. Algumas coisas me chamaram a atenção sobre o litoral do Brasil que gostaria de compartilhar:

1. A maioria dos lugares, as terras são vendidas por preço de banana para Argentinos, Franceses, Italianos e outros;
2. Os nativos, a maioria muito pobre, são explorados como mão de obra nas pousadas e hotéis luxuosos;
3. Um aspecto muito importante, os predadores europeus não conseguiram dominar, a simplicidade, a honestidade e a ingenuidade dos nativos de cada região;
4. Os nativos não foram contaminados pelo capitalismo consumista que ensina o acúmulo, por isso em alguns lugares o meio para sobreviver continua com a pesca diária.

Diante dessa aventura, um lugar me chamou a atenção, no Sul da Bahia. A ilha de Moreré. 






Ilha de Boipeba - vilarejo de Moreré - o lugar onde o Tempo Espera!

A inspiração veio da musica Vilarejo, da cantora e compositora Marisa Monte.

"há um vilarejo ali, onde almeja um vento bom.
Da varanda, quem descansa vê o horizonte deitar no chão.
Pra acalmar o coração. Lá o mundo tem razão.
Terra de heróis, lares de mães.
Paraíso de mudou para cá.
Lá o tempo espera. Lá é primavera.
Portas e janelas ficam sempre abertas para a sorte entrar"

O Tempo Espera!

Em Ilha de Boipeba, encontrei algo inusitado. Um vilarejo e ao mesmo tempo um paraíso ainda preservado, Moreré. O vilarejo, recebe esse nome, devido a sua  origem Tupi,  que tem como significado o nome de um peixe da região chamado acará-disco. O povo que vive no vilarejo, cerca de 250 habitantes, sobrevive através da pesca. A natureza de mata atlântica quase intacta auxilia a beleza do lugar. Mas, não foi só a beleza que fez de Moreré um lugar magnifico na minha opinião. O que mais me chamou a atenção, além da beleza, da riqueza e da virgindade do local, foi o comportamento dos nativos de Moreré. Aprendi com eles que o tempo espera!

Depois da convivência e simpatia desse povo desenvolvi a receita sobre o lugar onde o tempo espera. Mas, afinal o que é fazer com que o tempo espere?

Receita sobre o lugar onde o Tempo Espera

O lugar onde o tempo espera acontece quando compreendo que a natureza dita as ordens da vida. Maré alta, maré baixa, tempo bom, tempo ruim. Sigo a vida com a visão de que, cada dia é o momento para decidir. Pois, o que faço depende do que a vida vai trazer.

Ingredientes

  • Uma colher bem cheia de sensibilidade para saber que quem controla tudo, desrespeita a vida e tudo que está conectado a ela.
  • Dois copos cheios de valores como respeito e dignidade para com o meio ambiente e consequentemente com o outro;
  • Três colheres diárias de aceitação de que nem todas as decisões dependem de nós. Muitas decisões dependem de tudo que envolve nossa vida. O meio ambiente e as pessoa;
  • Duas pitadas bem cuidadosas de que a vida é digna quando não se explora a ingenuidade do outro.


Modo de Preparo

Mistura tudo e contemple sempre o MAR. Pois, ele nos faz lembrar que o infinito existe, o imprevisível é real e respeitar os limites da própria natureza é fato fundante para se viver bem.



Dica

Dizem que as prais são todas iguais! Discordo profundamente dessa concepção. Afinal, para os bons observadores, a beleza é sempre única e exclusiva. Não pode ser massificada.

Boa semana!

Mila

domingo, 23 de outubro de 2011

Receita sobre a Generosidade!

A generosidade é a virtude que transforma a forma de pensar das pessoas, quando ela é desenvolvida. Antes, a forma de pensar estava centrada na seguinte informação: “atribuir a cada um o que é seu”. Agora, diante da mudança que envolve o desenvolvimento dessa virtude, o lema é outro: oferecer ao outro o que não é dele, doar o que lhe falta.
Para que isso aconteça, vamos seguir uma receita simples e rápida.

Ingredientes



. Um copo bem grande de certeza sobre o que a generosidade não é. A generosidade não é uma ação em função de determinado texto, lei ou regra. Ela age além de qualquer lei, de qualquer regra ou mandamento, em todo caso ela é humana, e unicamente de acordo com as exigências do amor, da moral ou da solidariedade.



. Três colheres diárias sobre o conceito de solidariedade que está profundamente ligado ao de generosidade. O que é solidariedade? É um estado de fato antes de ser um dever; o estado de fato é bem indicado pela etimologia: ser solidário é pertencer a um conjunto in solido, como se dizia em latim, isto é, para o todo. Ser solidário – generoso é pertencer a um mesmo conjunto e partilhar, conseqüentemente – quer se queira, quer não, quer se saiba, quer não – uma mesma história.



. Uma pitada bem generosa sobre a prática da virtude. Ser generoso é desenvolver a consciência da interdependência. É a ideia de que pertencemos uns aos outros, por isso, somos chamados a viver para o todo. A generosidade pode ser motivada pela solidariedade, mas ela só pode ser verdadeira desde que vá além do interesse. A generosidade passa a ser entendida como a virtude do dom. A virtude da doação.



. Uma forte dose de generosidade diária faz muito bem à saúde. Ser generoso é ser livre de si, de suas pequenas covardias, de suas pequenas posses, de suas pequenas cóleras, de seus pequenos ciúmes...A generosidade nos convida, na falta do amor, a dar exatamente aos que não amamos, tanto mais por necessitarem mais ou por estarmos mais bem situados para ajudá-los. Sim, quando o amor não pode nos guiar, por estar ausente, que a urgência e a proximidade chamem a generosidade.

Modo de preparo

Mistura tudo, bata bem durante alguns dias e perceba que a generosidade é ao mesmo tempo consciência de sua própria liberdade e firme resolução de bem usá-la. Consciência e confiança, pois: consciência de ser livre, confiança no uso que se fará disso. É por isso que a generosidade produz auto-estima. Ser generoso é saber-se livre para agir bem e querer-se assim. A pessoa generosa não é prisioneira de seus afetos, bens e nem de si mesmo.

Dica

A generosidade associada com outras virtudes ajuda muito a nossa vida. Somada à doçura, ela se chama bondade. Somada a boa-fé ela se chama verdade.

Boa semana,

Mila

domingo, 16 de outubro de 2011

Receita sobre a Boa-fé


O que é a boa-fé? Essa virtude está relacionada com um fato. Como fato, é a conformidade com os atos e com as palavras da vida interior, ou desta consigo mesma. Como virtude, é o amor ou o respeito à verdade, e a única fé que vale. É considerada pelos gregos como aletheiogal, porque tem a própria verdade como objeto.

Segue alguns ingredientes para o desenvolvimento da Boa-fé como virtude

Ingredientes



. Algumas pitadas de conhecimento sobre a questão essencial de que: Ser de boa-fé não é sempre dizer a verdade, pois podemos nos enganar, mas é pelo menos dizer a verdade sobre o que cremos;



. Duas colheres de sopa sobre a ideia de que: A boa-fé é uma sinceridade ao mesmo tempo transitiva e reflexiva. Ela rege, ou deveria reger, nossas relações tanto com o outro como conosco mesmo;



. Um copo bem cheio sobre a prática de que: A boa-fé é uma abertura de coração que nos mostra tais como somos; é um amor à verdade, uma repugnância a se disfarçar, um desejo de reparar seus defeitos e até de diminuí-los, pelo mérito de confessá-los. É a recusa de enganar, de dissimular, de enfeitar. Trata-te de amar a verdade mais que a si mesmo.


Modo de preparo


Mistura tudo e veja o resultado: A boa-fé é o contrário do narcisismo, do egoísmo cego, da submissão de si a si mesmo. A boa-fé é uma virtude que faz da verdade um valor e a ela se submete.


Dica


A boa-fé é o amor à verdade, na medida em que esse amor comanda nossos atos, nossas palavras, até mesmo nossos pensamentos, nos tornamos verdadeiros com a gente mesmo, com o outro e com tudo que nos cerca.


Boa semana,


Mila

domingo, 11 de setembro de 2011

Receitas sobre as virtudes da vida humana




Receita sobre a doçura


Conhecida como praotés, a doçura aparece entre os gregos como uma coragem sem violência, uma força sem dureza, um amor sem ira. A doçura é antes de mais nada uma paz, real ou desejada: é o contrário da guerra, da crueldade, da brutalidade, da agressividade e da violência.


Como toda virtude é um desenvolvimento da vida humana, segue abaixo sua receita para desenvolvê-la na existência:


Ingredientes


. Uma colher de conscientização de que a doçura é uma recusa a fazer mal;

. Uma pitada de conhecimento sobre o que não é doçura: ira, violência e dureza;


. Um copo de rememoração histórica sobre o que pensava-se da doçura: A doçura para os gregos designa a gentileza das maneiras, a benevolência que atestamos para com outro;


. Três doses diárias para não esquecer que a Doçura é a maestria dos sentidos.


Modo de preparo

Mistura tudo e aplica na cultura contemporânea. Então o resultado será: "Mais do que máquinas precisamos de humanidade. Mais do que inteligência precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes a vida será de violência e tudo estará perdido.”
Charles Chaplin

Dica

A manifestação da doçura pode intervir num contexto muito mais nobre. Manifestando-se em relação aos infortunados, ela torna-se próxima da generosidade ou da bondade; em relação aos culpados, torna-se indulgência e compreensão; em relação aos desconhecidos, os homens em geral, tornam-se humanidade e quase amor.


Boa semana,


Mila

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Receita sobre o poder e o dever



Na perspectiva do filósofo Kant, a consciência de conduzir a vida levando em consideração as duas qualidades - o poder e o dever - é um sinal da maioridade do ser humano. Mas, o que significa a maioridade? O conceito de maioridade, em Kant, está relacionado a conduta. Um ser humano em estado de menoridade é aquele que transfere suas decisões e nega-se a assumir responsabilidade pelo que se faz a outro.

Uma pequena receita para alcançar a maioridade

Ingredientes

. Algumas gotas diárias do discernimento entre o poder e o dever. Descobrir que há coisas que podemos fazer - basta ter a competência, mas que não significa que devemos fazer é fundamental.
. Duas colheres cheias de informações sobre nossos comandos. Na visão de Kant, somos comandados por nossos desejos e nossas vontades. O terceiro no camando é o arbítrio, que dá a palavra final. A decisão de concretizar o querer está associado a maioridade.
. Dois copos cheios de poder e dever. Toda a construção da vida depende da relação harmoniosa e pacífica do poder e do dever. Nem tudo o que podemos devemos fazer. Às vezes, o que devemos não podemos.

Modo de preparo

Misture tudo e acrescente os dilemas morais. Os dilemas morais referem-se a essas variáveis, e a busca da vida digna também está relacionada com o poder e o dever.

Dica

É comum, enfretar situações em que não sabemos como agir, já que estão envolvidos valores que entram em conflito. Aprender a lidar com esses momentos é essencial para um crescimento pessoal e um amadurecimento existencial.

Boa semana,

Mila